Em 1960 ingresso, pelo temível exame de admissão”, no centenário Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Em 1963, o professor Coronel Montezuma, nas aulas de
História das Américas, revela-nos os
mistérios dos “Deuses Túmulos e Sábios” livro onde conheci a grandeza das
civilizações Inca, Maia e Egípcia, e pude compará-las com a Ocidental e Cristã.
Por aí uma janela se abriu para comparativamente relativizar o até então
incontestável. Talvez tivesse sido aí o início do aprendizado da contestação.
E a contestação leva à dúvida que leva ao constante
questionamento que sempre volta à origem, isto é, à dúvida, origem de toda a
sabedoria. Aristotelicamente.
E que dizer de um menino de catorze anos que em 1964, depois
de uma magistral aula de história das Américas, no dia 13 de março, estar num
bonde, rumo à praça XV de novembro para pegar a barca para Niterói e se depara
com o comício da Central do Brasil, que deu origem à queda do então presidente
João Goulart?
No palanque, Jango, Maria Tereza e Leonel Brizola.
Na praça, frente à estação de trens da Central do Brasil, e
do edifício do então Ministério da Guerra, o povo, as centrais sindicais, os
sargentos rebelados, os estudantes da UNE, os fuzileiros navais do Almirante
Aragão..
Fardado, de quepe vermelho e túnica caqui, desci do bonde
parado no engarrafamento, por baixo da túnica a já suada gandola caqui de golas
vermelhas. Ganhei uma grande bronca ao
chegar atrasado em casa, mas assisti ao discurso de Jango, defendendo as
reformas de base. “No pasarán” o golpe já estava no ar e eu não sacava nada.
Eram momentos históricos (ou pré-históricos)? Fumávamos
escondido e namorávamos no bonde ou no convés da barca (com autorização
especial do capitão) as normalistas do Instituto de Educação ou do Colégio Veiga
de Almeida. Gatinhas que como nós moravam em Niterói e estudavam no Rio. Ai que
saudades. Que frison, que tesão...
Colegas sacanas do científico, faziam-nos lutar um contra o
outro, sair mesmo na porrada, e apostavam para ver quem pedia “arrego”. Apostavam cigarros, “Ministers e Holliwoods”. Depois
de tudo, os contendores, com a cara inchada dos socos e as fardas sujas e às
vezes rasgadas das quedas nos escombros da estação das barcas incendiada anos
atrás, iam comer um pastel conciliador com caldo de cana na pastelaria Imbuhy,
emblemática na história de Niterói que infelizmente naufragou com suas maquetes
perfeitas das barcas da Cantareira, que rodavam numa espécie de palco acima das
cabeças de seus freqüentadores deliciados com a qualidade maravilhosa de seus
pastéis.
Discutíamos política, filosofia e religião. Virei ateu.