sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Minha Versão - Capítulo 02 - O Colégio Militar, as aulas de história – política – religião – filosofia.


Em 1960 ingresso, pelo temível exame de admissão”, no centenário Colégio Militar do Rio de Janeiro.

 

Em 1963, o professor Coronel Montezuma, nas aulas de História das Américas,  revela-nos os mistérios dos “Deuses Túmulos e Sábios” livro onde conheci a grandeza das civilizações Inca, Maia e Egípcia, e pude compará-las com a Ocidental e Cristã. Por aí uma janela se abriu para comparativamente relativizar o até então incontestável. Talvez tivesse sido aí o início do aprendizado da contestação.

 

E a contestação leva à dúvida que leva ao constante questionamento que sempre volta à origem, isto é, à dúvida, origem de toda a sabedoria. Aristotelicamente.

 

E que dizer de um menino de catorze anos que em 1964, depois de uma magistral aula de história das Américas, no dia 13 de março, estar num bonde, rumo à praça XV de novembro para pegar a barca para Niterói e se depara com o comício da Central do Brasil, que deu origem à queda do então presidente João Goulart?

 

No palanque, Jango, Maria Tereza e Leonel Brizola.

 

Na praça, frente à estação de trens da Central do Brasil, e do edifício do então Ministério da Guerra, o povo, as centrais sindicais, os sargentos rebelados, os estudantes da UNE, os fuzileiros navais do Almirante Aragão..

 

Fardado, de quepe vermelho e túnica caqui, desci do bonde parado no engarrafamento, por baixo da túnica a já suada gandola caqui de golas vermelhas.  Ganhei uma grande bronca ao chegar atrasado em casa, mas assisti ao discurso de Jango, defendendo as reformas de base. “No pasarán” o golpe já estava no ar e eu não sacava nada.

 

Eram momentos históricos (ou pré-históricos)? Fumávamos escondido e namorávamos no bonde ou no convés da barca (com autorização especial do capitão) as normalistas do Instituto de Educação ou do Colégio Veiga de Almeida. Gatinhas que como nós moravam em Niterói e estudavam no Rio. Ai que saudades. Que frison, que tesão...

 

Colegas sacanas do científico, faziam-nos lutar um contra o outro, sair mesmo na porrada, e apostavam para ver quem pedia “arrego”.  Apostavam cigarros, “Ministers e Holliwoods”. Depois de tudo, os contendores, com a cara inchada dos socos e as fardas sujas e às vezes rasgadas das quedas nos escombros da estação das barcas incendiada anos atrás, iam comer um pastel conciliador com caldo de cana na pastelaria Imbuhy, emblemática na história de Niterói que infelizmente naufragou com suas maquetes perfeitas das barcas da Cantareira, que rodavam numa espécie de palco acima das cabeças de seus freqüentadores deliciados com a qualidade maravilhosa de seus pastéis.

 

Discutíamos política, filosofia e religião. Virei ateu.