sexta-feira, 16 de abril de 2021

Minha Versão - Capítulo 31 - Instalação no apartamento da Galvarino Gallardo e a separação definitiva.

  

Instalação no apartamento da Galvarino Gallardo e a separação definitiva.

 

O ano novo, passamos numa festinha em casa de Jones.

Ainda na primeira semana do ano, Egídio e família voltaram das férias e precisávamos desocupar a casa, não que ele pedisse, mas estávamos muito constrangidos.

 

Mais uma vez ele nos ajudou, conseguiu com um amigo, um ótimo apartamento para que alugássemos. 

 

Ficava num conjunto de edifícios muito bons na Calle Galvarino Gallardo no bairro de Providencia entre Pedro de Valdívia e Ricardo Lyon, uma ótima localização, e ainda tinha a vantagem de estar semi-mobiliado.  

 

Fizemos a mudança imediatamente, mas eu não quis caracterizar um reatamento e que moraria ali com Eliane.

 

Nas semanas que ficamos na casa de Elígio, passamos a limpo toda a relação, discutimos exaustivamente, e pela primeira vez conseguimos serenamente concluir pela inevitável separação.

 

Ficou combinado que não contaríamos a Elígio, para não criar uma frustação para quem estava nos ajudando com tudo. Eu pagaria o aluguel e uma pensão até que ela conseguisse um trabalho. 

 

O apartamento, o bairro, a vizinhança eram ideais para o crescimento da Carla que tinha acabado de fazer dois aninhos.  A saudade da nossa gordinha era enorme, e era compartilhada intensamente pelos dois, e foi o motivo para nos mantermos amigos, solidários e companheiros por todos os anos seguintes.

 

Como eu poderia pagar o aluguel e a pensão? 

Os dólares que trouxera transformaram-se numa enorme soma de dinheiro em Escudos pois a defasagem cambial era enorme, além disso, meu querido, solidário e compreensivo pai enviaria via Elígio, 100 dólares mensais, praticamente um salário de classe média nessa época de crise econômica.

 

Com a situação política devida à vitória da Unidad Popular e a eleição de Salvador Allende, a burguesia apavorada comprava dólares a qualquer preço para mandar para fora do país, e com medo de uma revolução à cubana, preparavam-se para uma fuga para Miami, como os gusanos de Cuba.

 

Mas a minha participação no pagamento do aluguel do apartamento que inicialmente era 100%, foi diminuindo rapidamente.

 

Acontece que os exilados brasileiros encontravam dificuldades para alugar   residências. Tanto pela falta mesmo de habitação de classe média no mercado, como pela pouca confiança que os proprietários, quase todos de direita, tinham nos exilados, que também não conseguiam empregos estáveis.

 

Assim, quando alguém conseguia um imóvel, logo surgiam amigos para dividir o espaço e o aluguel.

 

O apartamento, bem espaçoso, tinha três dormitórios, e Eliane logo teve a proposta de dois casais para os outros dois quartos.

Além disso, logo começou a namorar um brasileiro, estudante de economia de Santos, que ficou muito meu amigo, mas de quem, infelizmente não consigo mais lembrar o nome. E ele que já estava há mais tempo no Chile, tinha um emprego bem remunerado. 

 

Eles resolveram morar juntos, e assumiram a terça parte do aluguel que caberia a mim.

Logo no início das férias de verão de 1972 tudo tinha dado certo, como num happy end de comédia romântica americana.

 

Tudo estava se encaminhando bem, e eu resolvi voltar para casa do Jones, onde ainda tinha meu quartinho.

 

Eram tantas descobertas, na cultura, no país, nas pessoas, nas leituras, que estava maravilhado.

Resolvi curtir a liberdade, a vagabundagem e as novidades de um país e uma cultura novos pelo qual já tinha me apaixonado.

 

 

Nesse breve período de responsabilidades e coisas práticas, fiquei afastado dos colegas da faculdade e dos amigos de Macul.

Logo que pude fui procurá-los.

 

Jones já tinha superado a fase depressiva, e conversávamos muito. 

Eu adorava nossos papos, conheci os bons vinhos, a distinguir as uvas, as viñas, e os vales de cultivo, de Colchagua, do Maipo, do Maule, Central, etc.

Bons jantares na casa de Jones onde eu bebia dos bons vinhos e da sua inesgotável cultura e erudição.

 

Consegui contactar a galera do Pedagógico, alguns casais tinham se formado. Rafael Rengifo namorava uma amiga de secundário da Marisol, Pablito tinha conseguido uma namoradinha, mas felizmente, meu interesse inicial daquela aula de arqueologia ainda estava sozinha. 

 

Marisol tinha grande interesse pelo Brasil, pela cultura brasileira e pelos brasileiros, e foi por aí que me insinuei e consegui ser notado. 

 

Começamos a namorar, namorinho comportado, cinema, beijinhos, mas a coisa só pega fogo mesmo, no próximo capítulo.  

Numa viagem ao porto e aos mistérios das ladeiras de Valparaiso ...