Romance em Valparaíso
Nada melhor para um início de namoro do que uma viagem de trem a Valparaiso.
É uma cidade fantástica, cheia de encantos, mistérios, romance, ladeiras, vielas, mar, casas coloridas penduradas nas montanhas, sempre com vistas para o majestoso Pacífico.
Um porto de longas histórias, grandes batalhas, navegações, piratas.
Pelicanos, pinguins, focas, lobos e elefantes marinhos e muitas gaivotas. Todos eles tomando sol tranquilos na pequenas pedras e molhes do porto.
As ruas principais do porto com bares, hotéis e boates onde, com boa música, marinheiros do mundo todo, América, Ásia e Europa, embriagavam-se com as putas também do mundo todo. Chinesas, russas, argentinas, brasileiras e as falsas e verdadeiras francesas.
Graças à fria corrente de Humbold vinda da Antártida, a costa chilena tem uma das águas mais piscosas do planeta. E aí podia-se comer todo tipo de frutos do mar. Uma enorme variedade de espécies desconhecidas para mim, que vinha do tíbio Atlântico onde eu conhecia apenas peixes, camarões, siris e mexilhões.
Choros, erizos, pulpos, machas, calamares, centollas, locos, piúres, jaivas e ostras. Ah, as ostras! Com finos Sauvignons Blancs ou Chardonnays chilenos que superavam Chablis franceses.
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Peixes que na época só se encontrava naquele lado da América, como o Congrio Rosa e Salmón Salvage, ainda não criados artificialmente.
Fomos eu e Marisol em início de namoro, Rafael o venezuelano namorando uma amiga dela, e mais um amigo. O plano era passar um dia, dormir os cinco amigos num albergue coletivo, bed&breakfast, e voltar no dia seguinte.
Passamos o dia caminhando pela cidade, pelo molhe, pelos morros, pelas praças e ruas centrais.
Em cada lugar uma novidade, uma descoberta para mim. Eu estava realmente encantado, com a cidade e com a companhia.
Ela não era só a loirinha de belos olhos azuis do Pedagógico. Tinha uma inteligência, uma cultura e uma percepção de mundo surpreendentes, principalmente para uma menina de 17 anos, mistérios que tinham que ser desbravados, fiquei mais e mais envolvido.
Nas caminhadas de tarde pelas ladeiras da cidade, encontramos um bom albergue ao lado uma charmosa “Hostal”, que segundo a dona, tinha uma mansarda no terceiro andar, com vista para o mar, o que me deixou muito interessado, mas nada revelei aos amigos.
Jantamos num bar do porto, com música, vinho e gente muito animada. Tanta animação que chegamos a dançar, “Chic to Chic” o “Chic to chic” com Sinatra. E eu cantava: “Heaven, I’m in heaven”.
Meio constrangidos, não resolvíamos ir dormir, chegamos numa bela pracinha, onde pela primeira vez... conheci toda a educação e elegância britânica que os “Carabineros de Chile” tinham nessa época pré-Pinochet.
Num banco da praça, entre beijos e amassos, esquecemos que estávamos em local público, e só voltei à realidade quando um enorme e educado carabinero tocou levemente no meu ombro e disse:
-- Perdón caballero, no estarian mejor ustedes en un hotel?
Gelamos, mas pensei no que poderia acontecer se isso acontecesse no Brasil com nossa indecentemente violenta polícia.
Respondi:
-- Gracias señor, és lo que vamos hacer.
E aproveitei a dica para propor: vamos deixar o albergue para eles e ficar na mansarda da Hostal?
Proposta aceita, fomos rindo muito da situação para o que seria o berço de um longo amor.
Em vez de uma noite, ficamos cinco.
Afinal estávamos de férias, e Santiago nessa época do ano é extremamente quente, seca e vazia, assim poderia esperar.
Cinco dias se descobrindo na mansarda. Os tênues raios de sol que entravam pela persiana de madeira revelavam o que não se via a olho nu, na luminosidade do sol.
Era uma pele coberta de fina penugem loira, quase transparente que passei a chamar de “piel de durazno”.
Nesses cinco dias saíamos apenas à noite, para comer, dançar e tomar vinho.