sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Minha Versão - Capítulo 13 - A Construção do Anfiteatro

 A construção do Anfiteatro.

 

O sítio Murundú de noite com chuva intensa, muita lama, com caras desconhecidas e todas assustadas, sejam as que já estavam lá, ou as que chegavam, era muito sinistro.

 

Fomos levados para um galpão onde havia umas duas dezenas de estudantes, todos desconhecidos. Ali recebemos um café preto, um pão e as primeiras instruções.

 

Não me lembro mais se ainda era terça-feira ou já estávamos no dia seguinte. Um dos que nos tinha ido buscar na floresta de pinheiros explicou que todos que lá estavam até aquele momento faziam parte da comissão que iria montar a infraestrutura do congresso que começaria no sábado.

 

Os alunos de engenharia, como eu, iam trabalhar na construção/adaptação das instalações. O pessoal de medicina e enfermagem, montar um pequeno posto para atendimento de emergências, tinha gente para montar a cozinha e planejar a alimentação, etc.

 

Ao fundo do galpão, pilhas de tatames. Cada um pegou um e tratou de descansar.

 

Quarta-feira a chuva continuava impiedosa. O sítio só tinha mesmo o galpão e uma outra pequena cobertura que havia sido um chiqueiro, já há algum tempo desativado. O projeto era instalar no chiqueiro a cozinha, e dormirmos todos naquele mesmo galpão.

 

Precisávamos construir a “plenária”. Em frente ao chiqueiro, um pouco mais abaixo do galpão havia um morro, pequeno, mas suficiente para abrigar todos os delegados que chegariam para as assembléias. 

 

A nossa “engenharia” consistia em cortar, com pá e enxada o morro em grandes degraus que serviriam de arquibancadas. Devido às chuvas incessantes, construímos uma cobertura de lona e forramos o chão também com lona plástica. Durante o congresso, ficou proibido entrar com sapatos na lona, para não trazer a lama abundante do caminho. Isso depois resultou num dos episódios mais bizarros do evento, pois na entrada do anfiteatro ficavam todos os calçados, e quando chegou a polícia, saímos correndo calçando qualquer sapato que servisse, pois na pressa não era possível cada um encontrar o seu par.

 

Foram dois dias trabalhando no anfiteatro, muito cansados, poucos estavam acostumados a trabalhos braçais, e a enxada deixara calos e bolhas em nossas mãos. 

Três filas diárias no “chiqueiro” para receber a comida, café da manhã, “almoço e jantar”, e sentar no chão para comer a gororoba.

 

Na sexta-feira cedo começaram a chegar os delegados, o sítio foi enchendo. Seguiu-se um longo e burocrático processo de credenciamento dos delegados. 

 

Esse credenciamento era fundamental para os diversos partidos e organizações presentes, pois cada voto seria importante na eleição da diretoria da UNE e definição da linha e estratégia política do movimento.

Chegou tanta gente que o galpão se tornou pequeno para dormirem todos, mesmo colados uns aos outros.

 

Como não cabiam todos deitados ao mesmo tempo no galpão, foram feitos turnos de quatro horas para dormir. Você dormia 4 horas e saia para o frio e a chuva a procurar um lugar no “anfiteatro”.

 

Na sexta-feira mesmo iniciaram-se as preliminares para o congresso que começaria no dia seguinte, as discussões eram intermináveis. Discutia-se ainda como seria o processo de discussão, as eleições etc.

 

Na sexta-feira com os demais delegados da UFF – Universidade Federal Fluminense, chegou Eliane, minha namorada de Niterói com quem eu iria me casar quatro meses depois. Pelo menos nessa noite conseguimos dormir mais aquecidos, compartindo o mesmo cobertor.