Porque mais uma
versão.
Anos 60, Revolução
Cubana, Reformas de Base, Golpe Militar, Sexo, Política e Rock and Roll, Ditaduras
Militares, WoodStock, Revolução Sexual, Liberdade Liberdade, O Foquismo e
Debray, Pátria o Muerte Venceremos, maconha, O livrinho vermelho do camarada Mao
Tze Tung (que nem se escreve mais assim), Feminismo, Lev Davidovitch Bronstein,
vulgo Trotsky , Debray, Marijuana,
Master & Jonhson, Freud, orgasmos
múltiplos, Rolling Stones, Ligas Camponesas, Tropicália, Isaac Deutscher, Não tome o elevador tome o poder, maio de 68,
é proibido proibir. Levy Strauss, Coen Bendit, Julião, Mariguela, Gal, O
Pasquim, Vietnã....É mole?
Já li e ouvi tantos relatos, versões e romances a respeito,
que ousei perguntar, porque não a minha versão?
Na época certamente acharia que a minha seria, sem dúvida, a
melhor versão, a mais politicamente correta, a mais engajada e revolucionária.
Depois de alguns longos anos, comecei a achar que seria somente razoável,
depois simplesmente desprezível, olvidável. Cheguei a achar que seria muita
pretensão tentar colocar no papel minhas experiências naqueles anos.
Finalmente, no equilíbrio da... maturidade? Permito-me
perguntar: que tal revelar ou registrar a minha versão? Nem que seja para os
netos, os amigos mais íntimos e alguns (cada vez mais raros) pesquisadores
daqueles tempos e lutas que mudaram (ou em que mudamos) o mundo e o Brasil.
Hoje me vejo à época como um observador, embora
participante, mas um tanto distante. Engajado, mas sempre, com certo
distanciamento que não posso chamar de crítico nem alienado. Seria um tanto
literário? Eu poderia estar fazendo uma ação revolucionária, pichando um muro,
gritando um discurso relâmpago num trem da Central do Brasil ou “defendendo el
camino chileno hacia el socialismo” numa passeata por “La Alameda Bernardo
O’Higgins” em Santiago, que padecia sempre de um constante e incômodo
sentimento de ridículo.
Na verdade, eu nunca me senti totalmente cômodo ou engajado
em coisa nenhuma, mesmo que meu romantismo me convencesse por momentos e me
levasse verdadeiramente a sentir o momento (apenas o momento) com grande
intensidade.
A História e as estórias são muito longas. Quando começo a
lembrar, os episódios vêm tão ricos, tão densos e cheios de detalhes, que se
fosse romancear odores, sabores, tons, luzes, pessoas e sensações, não
terminaria nunca. Por isso, resolvi deixar registradas como flashes as abundantes
lembranças daqueles anos. Mas como são pobres as reproduções da realidade! Que
pena não dispormos de uma mídia (ou uma arte?) que conseguisse expressar tudo
ao mesmo tempo.
Mais tarde me permitirei, caso tenha memória, vida e
momentos de tranqüilidade suficientes, revisitar com detalhes esses momentos do
passado, e aí sim, adornar os fatos frios, com o colo “de piel de durazno” da amada na “translucidad”
outonal de uma mansarda em Valparaiso com vista para “el inespugnable” Pacífico
(como diria el poeta Pablo Neruda), o pavor noturno numa cela da polícia
política carioca, ou o sabor da vitória quando encarávamos os prepostos da
ditadura a cantar o hino de Chico Buarque: “Apesar de você, amanhã há de ser
outro dia”. E foi ..., apesar de muita borrachada.
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